quinta-feira, 31 de maio de 2012

Leituras e desventuras

"A vida de Luiís Garcia era como a pessoa dele - taciturna e retraída. Não fazia nem recebia visitas. A casa era de poucos amigos; havia lá dentro a melancolia da solidão". (p.12...Iaiá Garcia - Machado de Assis).

Quero agradecer a Deus pelo dia de hoje...
Agradecer pela família que tenho, um beijo especial aos de perto e os de longe...
Grata pelo comentário da minha prima Naiadne e suas leituras nesse blog...pensar e escrever só faz algum sentido quando temos do outro lado um leitor com quem compartilhar letras e alegorias.


Há tempo não lia um romance ou um texto que não fosse acadêmico...Ufa! ontem a noite comecei a respirar pela brecha da literatura com Machado...Nenhuma obrigação, nenhum fichamento ou questão central para debater; apenas o livro e eu. Foi aí que conheci um sujeito misterioso...Luís Garcia...vejamos onde esse enredo vai dar.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Olhando o buraco da fechadura...




Como diz Adélia, as vezes Deus me tira a poesia e tira mesmo...mas, não tira de mim a contemplação do prosaico cotidiano. E sobre isso posso escrever. Mesmo sem inspiração? Não há lirismo desencarnado, não há vida sem poesia, ainda que esta esteja escrita em prosa. Desejo escrever mais aqui, mas esbarro diante da folha em branco por não saber como traduzir o que sinto e penso. Mas nunca deixo de sentir, de pensar e ver...Vejo todos os dias o mundo pelo buraco da fechadura, pela janela do transporte nos meus "passeios" diários ao trabalho, estágio, faculdade.
É assim que tenho me dividido esse semestre de 2012...Deus é muito bom comigo porque não perco o sentimento do mundo...subindo a serra do Recôncavo logo pela manhã meus olhos quase fechados pelo sono que as poucas horas não conseguiu cessar, não canso de ver e viver o Recôncavo...Esse lugar é terra mágica...de sonhos e desventuras.


PERDER PARA GANHAR

Perder a inteligência das coisas para vê-las”


Manoel de Barros, em “Matéria de Poesia”


Tornar as coisas que existem inexistentes e trazer a existência as coisas que não existem! Para Rubem Alves é necessário esse exercício para sentir, viver, compreender e entrar em contato com o mundo da escrita e da leitura...Como escrever sem exercer o sexto sentido? Sem a possibilidade que o pensamento nos dá de transcender?
Perder a inteligência das coisas, como nos sugere Manoel de Barros, seria ensaiar a desconstrução de conceitos bem definidos e enraizados em nosso ser social...Seria começar a ver o mundo pela lente de uma sabedoria contrária às formalidades existentes, como nos apontou o grande Paulo Freire. Podemos atravessar o saber escolar formal, sem desprezá-lo claro, mas acrescentar a ele o sentimento do mundo como bem nos disse Drummond. Se bem que nossos ombros não precisam necessariamente suportar o mundo, como este destacou em seu poema "Os ombros suportam o mundo", mas é necessário o estado de contemplação.

Sento-me à beira da calçada para ver-te
De cá meu olhar esprançoso crê que irá
despontar não do meio, mas do início do caminho,
que cheio de pedras e obstáculos cruzei para te encontrar.

Oh vida, oh mundo...vasto, viril e cruel...
Teus descampados me dão a certeza de um amanhã
atrás do sol que cai e da chuva que brilha...
Mas, teus olhos mundo...teus olhos já não me respondem nem me prometem nada.
Que importa? Tenho os braços abertos daquele que te formou sobre mim...
Ouço a sua voz e isso me basta! Já não preciso te ver mundo.

(Mércia Cruz)