quarta-feira, 30 de maio de 2012

PERDER PARA GANHAR

Perder a inteligência das coisas para vê-las”


Manoel de Barros, em “Matéria de Poesia”


Tornar as coisas que existem inexistentes e trazer a existência as coisas que não existem! Para Rubem Alves é necessário esse exercício para sentir, viver, compreender e entrar em contato com o mundo da escrita e da leitura...Como escrever sem exercer o sexto sentido? Sem a possibilidade que o pensamento nos dá de transcender?
Perder a inteligência das coisas, como nos sugere Manoel de Barros, seria ensaiar a desconstrução de conceitos bem definidos e enraizados em nosso ser social...Seria começar a ver o mundo pela lente de uma sabedoria contrária às formalidades existentes, como nos apontou o grande Paulo Freire. Podemos atravessar o saber escolar formal, sem desprezá-lo claro, mas acrescentar a ele o sentimento do mundo como bem nos disse Drummond. Se bem que nossos ombros não precisam necessariamente suportar o mundo, como este destacou em seu poema "Os ombros suportam o mundo", mas é necessário o estado de contemplação.

Sento-me à beira da calçada para ver-te
De cá meu olhar esprançoso crê que irá
despontar não do meio, mas do início do caminho,
que cheio de pedras e obstáculos cruzei para te encontrar.

Oh vida, oh mundo...vasto, viril e cruel...
Teus descampados me dão a certeza de um amanhã
atrás do sol que cai e da chuva que brilha...
Mas, teus olhos mundo...teus olhos já não me respondem nem me prometem nada.
Que importa? Tenho os braços abertos daquele que te formou sobre mim...
Ouço a sua voz e isso me basta! Já não preciso te ver mundo.

(Mércia Cruz)

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