terça-feira, 2 de agosto de 2011

CIÊNCIA POLÍTICA E SERVIÇO SOCIAL

Importância do conhecimento da realidade política para o profissional de Serviço Social.

Conforme alguns teóricos do serviço social como Iamamoto e Estevão, o surgimento da sociedade capitalista, pautada sob um modelo excludente, aprofunda as desigualdades e inaugura a questão social. No início do capitalismo no Brasil, o Estado e a Igreja dividiram tarefas, enquanto o primeiro se preocupava com os aspectos políticos e administrativos, a Igreja (católica e protestante) cuidavam da parte social. E é exatamente nesse contexto que nasce o serviço social, inicialmente como prática assistencialista que serviu a classe dominante na mediação entre burguesia e proletariado, mas que com o passar do tempo se secularizou, adquiriu autonomia e referencial teórico, rompendo assim com seu passado tecnicista.
Todavia, os desafios não se encerram com as conquistas históricas da profissão. O modo de produção capitalista continua em desenvolvimento, inaugurando novas formas de desigualdades. Assim, salta aos olhos de qualquer observador, por mais desatento que seja, o aprofundamento atual das questões sociais perante o crescente capitalismo, que vem “queimando” as relações sociais, econômicas e políticas como um grande dragão devorador. De fato, nunca como antes, presenciamos tamanha perda de valores morais e éticos, uma acirrada competitividade e consequentemente a desvalorização do “ser” em favor do “ter”, enfim, a desumanização e/ou “coisificação” do indivíduo.
Nesse mesmo contexto o Serviço Social apresenta-se ainda mais necessário! A cada crise social a urgência em se discutir soluções práticas torna-se lema para os grupos subalternos e válvula de escape para a minoria dominante. Mas, em que lado o assistente social deve ficar? Eis um dilema histórico que corre nas veias do Serviço Social desde seu nascimento. Se por um lado está a classe abastada, sempre opressora, dona do poder, a mesma que emprega o assistente social, por outro se encontra a maioria excluída, sofrida, marginalizada, trabalhadora, sustentáculo da produção econômica social. Segundo Marx:
A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. (MARX & ENGELS, 1999,  P. 26)
Porém, para assumir uma posição nesta arena de disputa entre classes sociais, o profissional de serviço social precisa conhecer a realidade política, bem como as implicações desta na sociedade em que atua. Esse conhecimento advém de um processo de investigação científica por parte do assistente social que considere a teoria como parte fundamental na materialização do seu agir profissional, sem cair no velho dilema entre teoria e prática, visto que conforme discussões atuais ambas se relacionam de forma dialética.
A compreensão da máquina administrativa e política de um país, bem como o funcionamento das suas “engrenagens” como, por exemplo, a instituição do modelo liberal (poder executivo, legislativo e judiciário) se faz ainda mais necessária ao profissional de serviço social na contemporaneidade. Compreender como e porque o liberalismo foi substituído pelo Estado de bem-estar social, que logo depois deu lugar ao neoliberalismo, e os interesses classistas aí imbricados fornece ao assistente social suporte teórico e científico para a compreensão da realidade posta. Pois, mesmo entre as demandas mais imediatas do seu cotidiano profissional, a sua prática sempre pressupõe uma pesquisa prévia e uma profunda relação com a teoria.
Dentre os diversos aspectos políticos, há de se considerar a democracia como o princípio que possibilitou a renovação do serviço social em solo brasileiro, principalmente no período da Ditadura Militar, quando a categoria profissional inaugurou o Movimento de Ruptura e se posicionou contra a poder hegemônico da época.
Conforme as considerações do professor Maurício em sala, “democracia é uma forma de organização política, um modelo que se difere de todo aquele que impede a participação do povo no processo decisório”. Nesse sentido, O projeto ético-político profissional do Serviço Social no Brasil pressupõe uma prática que leve a transitar do reino das necessidades para o da liberdade, refletindo também a capacidade do homem criar valores, escolher alternativas e ser reconhecido como cidadão. Assim, “a democracia é tomada como valor ético-político central, na medida em que é o único padrão de organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da equidade”. (CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS APROVADO EM 15 DE MARÇO DE 1993).
Isto significa que o assistente social no enfrentamento das múltiplas refrações da questão social deve partir de uma ação investigativa, analisando a essência do problema e entrelaçando a teoria à prática, como fundamento essencial do agir profissional. Até porque a habilidade do profissional vai além de ser somente executivo, técnico, frio, sendo também um profissional competente teórica, técnica e politicamente. Inclui-se principalmente a capacidade de propor, criar e implementar políticas sociais,  avaliando  projetos, sempre tendo como objetivo precípuo, estimular a participação dos sujeitos sociais na tomada de decisão política, na esfera de seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los. Levando sempre em consideração que este tipo de ação só ocorre quando o assistente social reconhece a importância do conhecimento científico para a compreensão da realidade social, que por sua vez fundamenta a sua intervenção nesta mesma realidade posta.

Mércia Cruz - 4º semestre S. Social UFRB.









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